segunda-feira, 20 de novembro de 2017

memórias literárias - 559 - NO ALTO DA MONTANHA

NO ALTO
DA
MONTANHA
 
 
 
559

 
Lembro-me bem disto. Eram as férias de julho. Eu, como sempre nos anos de infância, estava em Minas Gerais, na Meia Légua, em Cambuí. Papai tinha casa e terras ali. Eu costumava caminhar pela estrada até a casa de meu avô, de minhas tias e primos. Às vezes subia uma das montanhas.
 

 
A subida era íngreme. Havia gado no pasto. Às vezes eu escorregava, mas conseguia novamente subir. Esfolava os joelhos, os cotovelos, mas, criança que era, queria subir, subir. O sol estava para se pôr e eu queria contemplar aquela beleza.
 
Enxergava lá embaixo a minha casa, já pequenininha. Também visualizava a casa do vovô, dos meus tios. E dava para ver, pelos cantos da montanha, um pouco das casas da vila, no centro da Meia Légua. E subia, subia. Agora só os pássaros me faziam companhia. O gado berrava lá embaixo. Eu via a estrada em suas curvas por um bom pedaço; um cavaleiro estava subindo para Cambuí, outros dois desciam para a Meia Légua. Lá adiante, depois de minha tia Sebastiana, uma professora com algumas crianças caminhavam depois da aula. No curral do vizinho bem distante eu via as vacas a entrar para a ordenha. E subia, subia.
 
Lá em cima eu via o ribeirinho que descia da fonte de água. Que lindo! Água fresca, saída da montanha, límpida, potável e refrescante. Depois de bebê-la, continuei a subir, subir. E cheguei à parte mais alta. Minha casa estava pequenininha lá embaixo. Eu estava talvez a uns 300 metros lá da estrada. Via tudo: via o São Domingos, caminho do Córrego do Bom Jesus, via a entrada para São Mateus, em Camanducaia, via as duas capelinhas da entrada para a Roseta, bem ao alto. E orava.
 

 
Sim. Eu não era crente. Eu não havia ainda me convertido a Cristo. Eu nem sabia de Sua graça, salvação e transformação. Só conhecia as rezas. Mas ali, no alto da montanha, eu orava. Eu falava do coração com o meu Criador. Eu dizia a ele: "Senhor, eu vim aqui conversar conTigo! Como o mundo é lindo! É incrível!"

 
Há tantos anos que isso aconteceu! Passei boa parte do entardecer sentadinho na pedra, assistindo o desfile de nuvens branquinhas, que se encandeceram conforme o entardecer chegava. O azul deu lugar ao rosa afogueado e, logo mais, a brisa fria da noite de inverno chegou. Antes que escurecesse, eu desci. Fi-lo antes de papai chegar, para não levar bronca.
 
Depois que me converti, nos momentos de grande dificuldade, de grande reflexão, de grandes decisões, eu me ajoelho ao chão, imagino-me a subir aquela montanha, que já não é mais de nossa família há tantos anos, e subo novamente. Vejo as vaquinhas, vejo as galinhas, chego até a fonte, bebo da água fresquinha, subo mais, mais e mais, até chegar ao topo. Então, na minha imaginação, prostro-me ao chão, de frente para as montanhas daquelas Minas Gerais, e oro, dizendo: "Deus querido, há tanto tempo eu Te busco! Eis-me aqui novamente a falar conTigo, e a pedir-Te graça e companhia!"
 
E Deus, que não é fruto de minha imaginação, manifesta-se em minha realidade.
 
Ele nunca me faltou. Nos momentos de solidão Ele foi o meu companheiro. Nos momentos de sofreguidão foi o meu amigo. Nas horas de decisão foi o meu conselheiro. Nas horas de dificuldades foi o meu ajudador. Nos momentos de pecado foi o meu confessor e o meu Redentor. Nos instantes de dúvidas foi a minha luz. E todos os dias Ele é o meu EMANUEL, Deus comigo, presente, que nunca me deixa só.
 
Que o meu leitor e amigo tenha também a sua montanha para subir, mesmo que seja, como eu hoje, no meu quarto da cidade, longe da roça, infelizmente...
 

Wagner Antonio de Araújo

20/11/2017

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