segunda-feira, 20 de novembro de 2017

memórias literárias - 561 - NÃO É POR MIM...

NÃO É
POR MIM...

561
 
No ano passado achei uns pisca-piscas baratinhos. Comprei três. Mas, como não tivemos tempo de enfeitar quase nada, só o guardei na gaveta. Rute Cristina, minha filha, ainda com um ano e meio, ia comigo para a laje a observar os enfeites dos prédios ao redor. "Papai, pica-pica!" E ficava extasiada.
 
Hoje, ao abrir a gaveta, encontrei-os nas caixas. Rutinha já fala de tudo. Eu não ligo para esses enfeites, mas lembro-me que ligava quando era pequenino. Ela estava um pouco chorosa; então abri a caixa e disse: "Rutinha, você nem sabe o que eu tenho aqui!" Ela parou de chorar e ficou esperando, pulando, ansiosa. Desamarrei os fios, desembaracei-os e liguei-os na energia elétrica. Quando as luzinhas acenderam, os olhinhos de Rute brilharam. Ela deu um grito e falou: "Pica-pica, papai! Que lindo!" Em seguida saiu gritando: "Vovó Arlete, vem ver, pica-pica! Tia Milú, vem ver! Ma-mããe, pica-pica!" E pulava de felicidade.
 
Ter filhos é viver por eles, não por nós mesmos. É buscar agradá-los, não a nós. Penso neles sempre. Quero criar memórias boas para que eles tenham do que se lembrar. Mantenho diariamente o ensino da Palavra, brinco com eles e lhes digo à exaustão, com expressões de ternura: "Eu amo vocês!" Certamente se Jesus não voltar antes este texto valerá para firmar-lhes na velhice: Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade..., (Ec 12:1). Faço o que a Palavra de Deus me ordena: Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. (Pv 22:6) Confio-os ao Senhor.
 
Porém esta atitude de minha filha também me lembra o que deve ser a vida cristã: uma busca constante do interesse de Deus e do próximo, não os nossos próprios interesses. Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. (Rm 14:7). Se há algo que a verdadeira conversão faz no coração do crente é transformá-lo em alguém que não vive mais para si, mas para Deus e para o próximo. O amor não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; (1Co 13:5)
 
Alguém ilustrou o Céu com a seguinte alegoria: estaremos numa mesa e, junto com o nosso prato, teremos um talher bem longo, que não poderá ser usado para a nossa boca, mas para servir a boca de quem estiver à nossa frente. Assim todos servirão e serão servidos. Bonita a estória. A igreja deveria ser assim também. Ao invés de corrermos atrás do serviço que ela possa nos prestar, deveríamos arrumar o que fazer para sermos úteis na Obra do Senhor. E com isso os dons não seriam enterrados e ninguém ficaria sem ocupação e afeto.
 
Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia. (Hb 10:25). Há tantos que precisam de nossa admoestação, de nossas orações, de nossa companhia, de nosso afeto, de nossos préstimos em honra e amor! Quem serve não encontra tempo para reclamar e nem motivo para isso. Pelo contrário: reveste-se de força para viver e alegria no servir. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (Jo 13:35)
 
Rutinha está lá na sala, pulando de alegria. Agora sei que o pisca-pisca não comprei para mim, mas para vê-la sorrir e para decorar a sala para o Natal que, de forma cristã e bíblica, hei de ter com a minha família e no seio da igreja onde sirvo ao Senhor. E assim como a sirvo em amor, quero servir aos meus irmãos, não buscando os meus próprios interesses, mas o da edificação de todos. Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. (Rm 14:19)
 
Que Deus me ajude a fazer assim; bem como ajude ao meu leitor a fazê-lo também.
 

Wagner Antonio de Araújo

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