quarta-feira, 20 de maio de 2015

memórias literárias - 171 - MAMÃE ORAVA E EU TAMBÉM

Mamãe orava.
Eu orarei também.

 
Mamãe era uma mulher de oração. Sim, Elzira Bonfante, heroína na fé, sabia orar, e como orava! Ela sabia falar com Deus.
 
Mamãe não cursou teologia, não conhecia as línguas originais da Bíblia nem tampouco matérias acadêmicas. Mas ela conhecia a Deus muito mais do que eu; a sua teologia era a teologia da comunhão, da contrição, da rendição total ao Senhor que lhe remiu.
 
A beleza de minha mãe não estava tanto no rosto ou no corpo torneado. A sua beleza estava na alma, no caráter, na vivência com Jesus, na experiência de quem sofrera e vencera, de quem trocara tudo por Cristo, o seu Salvador amado!
 
Mamãe orava por nós. E como orava! Junto de sua bengala, ou depois, no andador, ela se escorava sentadinha na cama, fechava os olhos e balbuciava palavras doces ao Senhor. Em seus dizeres havia o odor de cada um de nós. Ela pedia por mim, por meu irmão, pela Milú, pelas suas irmãs, nome por nome, por sua igreja, seu pastor e a família dele. Mamãe orava para que seus parentes encontrassem Jesus como ela encontrara um dia. Ela orava para que eu fosse feliz e sarasse; que o meu irmão prosperasse e fosse cada dia mais santo; que não faltasse o pão quotidiano. Orava pelos vizinhos todos, pelos irmãos em Cristo, pelo Brasil, pelos netos que não tinha mas que gostaria de ter.
 
Mamãe agradecia. Ah, quantas vezes ela parava no meio da refeição e dizia: "Obrigada, Senhor!" Constantemente cantarolava e batia com a mão na mesa ou na cadeira para acompanhar seu canto: "Renova-me, Senhor Jesus, põe em mim teu coração..."; "Andando com Deus eu estou, andando com Deus..."; "Mais perto quero estar, meu Deus de Ti"... Quando as mulheres da igreja (Batista em Vila Pompéia São Paulo Brasil) vinham celebrar o culto das senhoras em casa, mamãe trazia seu Cantor Cristão (hinário) e pedia para cantar vários hinos. Em cada um deles ela se emocionava e como não sabia o que fazer com as lágrimas que desciam, ela sorria e dizia: "Como sou boba, estou emocionada!" Sim. Lágrimas e sorrisos sinceros, honestos, humildes, de uma mulher que orava!
 
Mamãe pouco pedia para si. Raramente eu a vi orar por algo pessoal. Ela não tinha nem tempo e nem interesse, uma vez que se sentia absolutamente realizada com o que recebera do Senhor: a vida eterna! Mamãe era toda amores por Cristo. O que ela queria era ter bastante para repartir com suas irmãs e com os filhos. "Se eu ganhasse um milhão, daria um pouco para a Jovê (irmã), outro pouco para a Elza, para a Iracema, para a Nadir etc... Comprava um carro para você, outro para o Daniel, ajudava a construção do templo etc..." E assim ela sonhava! E nos seus sonhos ela nos deu tantos carros, ela ajudou tanto as minhas tias, ela supriu tanto as nossas necessidades!
 
E é verdade, pois, se não fez mais financeiramente (sempre que pôde fez!), o fez com o seu amor, o seu carinho, a sua ternura, a sua quietude, o seu sorriso e bom humor constantes, e, principalmente, com as suas orações!
 
Mamãe orava! E esse é o tesouro que Daniel e eu levaremos pelo resto de nossas vidas: as orações de nossa mãe! Assim como ondas de rádio se propagam pelo espaço e nunca se perdem, as orações de nossa mãe não se desfizeram em energia estática; elas continuam agindo, continuam no Altar de Deus, continuam suprindo bênçãos aos que delas foram alvos! Sim, pois diz-nos a Escritura Sagrada que as orações estão no cálice do Senhor, com o incenso do Altar. Elas não se perdem. "Muito pode a oração de um justo em seus efeitos" (Tg 5.16)
 
Agora, enquanto chove forte lá fora, enquanto a frente fria avança pelo estado de São Paulo, enquanto a minha casa está quase toda reformada e sem mobília, enquanto a minha esposa repousa tranquila em seu leito, enquanto a minha irmã adotiva está em Minas com o meu irmão Daniel, cá estou eu, na minha poltrona, olhando o retratinho de minha saudosa mamãe em oração. Como sou rico! Eu tive uma mãe que orava!
 
Irmãs que me lêem: sejam para seus filhos, parentes e amigos mulheres que oram, mulheres que intercedem, mulheres que trazem beleza, ternura e graça nos lares onde vivem!
 
Filhos e filhas: sejam para seus pais filhos que oram, que suplicam, que intercedem! Eu lhes dou testemunho de que vale à pena, pois somente aos quatorze anos eu me entreguei a Jesus, mas orei e testemunhei de Cristo, e vi cada um dos meus familiares se render ao Senhor, inclusive a minha mãe, que se converteu por último, mas transformou-se na mais crente de todos nós! Vale a pena tornar-se um filho ou uma filha que ora!
 
Maridos e pais: tudo o que devemos ser pode resumir-se nesse ato maravilhoso: "homens que oram"! Não é suficiente conhecer a Deus "de ouvir falar", "de ouvir pregar". Precisamos andar com Deus. Precisamos buscá-lo em oração, com a bíblia na mão e em contrição interior.
 
Quando orar deixar de ser um peso e transformar-se num hábito, então teremos começado a caminhar a maravilhosa jornada dos heróis da fé. Teremos agradado o coração de Deus e vislumbraremos os portais da Terra Celestial com felicidade e grande contentamento!
 
"Obrigado, Senhor, pela minha mãe, Elzira Bonfante, Tua serva, minha heroína, meu tudo, meu tesouro incomensurável! Sofro, Senhor, por tê-la recolhido tão cedo, em 2005, mas confio que o Teu plano foi perfeito e submeto-me a Ti. E peço-Te: que o exemplo de minha mãe inspire outras mães, pais, filhos, irmãos e amigos, para que também sejam PESSOAS QUE ORAM. Em nome de Jesus. Amém."
 


 
Eu te amo, mãe querida! Para sempre...


Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuiba, São Paulo, Brasil
pres. da Ordem dos Pastores Batistas Clássicos do Brasil

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