AINDA TE ESPERO,
MÃE...
É, minha mãe
querida.
Quantas vezes eu
fui te esperar no portão, para ver se voltavas do hospital. Foste embora para a
Beneficiência Portuguesa para tratar tua respiração e o ombro quebrado. Porém
nunca mais voltaste. Faz cinco anos. E eu ainda te espero ao portão. Quantas
vezes precisei gritar comigo mesmo, dizendo: "Isso é loucura, Wagner, tua mãe
está no Céu, ela não voltará aqui!"
Sim. Tu não
voltarás. Do hospital foste ao necrotério, e ao velório e ao cemitério. Tive que
ajudar a cobrir-te com as flores amarelas e brancas que decoraram a tua inércia
mortal.
Às vezes tudo é
belo. Porém, quantas e quantas vezes eu não me sinto como Jó, que dizia: "Quando
amanhece eu pergunto: quando anoitecerá? E quando chega a noite eu digo: quando
será que o sol irá nascer?" Uma sensação de impotência ante a impossibilidade de
teu regresso. Essa dor é um osso da existência. Quem ama sente. Quem ama sofre.
Quem ama morre um pouco (ou muito...)
Entendo as
lágrimas do Salvador quando contemplou o túmulo de seu amigo Lázaro. Por três
dias esteve morto; por três dias separaram-se. E por três dias a morte foi
potente, mostrando-se barreira intransponível. Por essa dor Jesus chorou, a dor
de querer estar com quem se ama e não poder. Foi a dor do homem saudoso. Ah,
como Jesus foi humano! Claro, foi um momento, um átomo, pois logo em seguida à
Sua ordem o defunto levantou-se e viveu. Mas quantos Lázaros continuaram mortos?
Quantos não morrem hoje e quantos mais não morrerão amanhã? Tu és meu Lázaro,
mamãe amada!
Graças a Deus
ver-te-ei ainda, mãe querida. Certamente que em outras circunstâncias, graças a
Deus! Tu estarás glorificada, com um corpo transformado. Não serás velha, nem
doente, nem de coluna arcada, nem de ossos quebrados, nem com a vista cansada,
nem de pulmões secos, nem com sangue engrossado. Tu serás do jeito que o Pai
idealizou: plena e perfeita em Cristo. E não serás minha mãe, serás minha irmã!
Conquanto eu tivesse prazer em tê-la para sempre como minha mãe, o prazer da
irmandade celestial há de ser muito, muito melhor do que as relações familiares
daqui, pois Deus não troca o bom pelo pior, mas o bom pelo melhor.
Aleluia!
Não escrevo a ti,
mamãe querida. Tu não me lês, não me entendes, não me ouves. Teu Céu seria um
inferno se pudesses ver o sofrimento dos teus filhos pela tua ausência. Escrevo
para mim mesmo, escrevo como desabafo literário, pois às vezes a dor de tua
ausência sufoca a própria alma. E eu digo: "Senhor, não posso mais, não aguento
mais!" E o Senhor sempre socorre os que nEle esperam.
Eu preciso de
colo!
Eu preciso de
afago materno!
Eu preciso do teu
"Deus te abençoe, meu filho!"
Portanto, para
estas horas tristes de uma primavera com cara de outono, que fale a alma e o
coração, e que o consolo venha de Deus, sempre presente, acolhedor, amoroso e
benigno.
"NÃO SE TURBE O
VOSSO CORAÇÃO, NEM SE ATEMORIZE"
Em memória de
Elzira Bonfante,
a rainha do
coração de seus filhos
Wagner &
Daniel.
São Paulo, 4 de
novembro de 2010
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