quinta-feira, 28 de maio de 2015

memórias literárias - 189 - AMAS-ME OU USAS-ME?

 
 
AMAS-ME OU
USAS-ME?
189
"Como eu o amo"! "Como ele é bom!"! "Como nós gostamos de você!" Frases tão comuns em determinado tempo, que desaparecem de uma hora para outra quando não temos mais o que ofertar. Estão aí os pais esquecidos, que contam nos dedos o número de visitas que os filhos lhe fizeram durante o ano. Estão aí os pastores que deixaram os seus pastorados e hoje não são mais convidados para pregar em lugar nenhum. Estão aí antigos presidentes, secretários, missionários correspondentes de organizações, que foram deixados ao relento pelos que deles não podem tirar mais nada. Estão aí os cônjuges separados, muitos deles sofrendo opróbrio e dor porque não tiveram mais aquilo que o companheiro  buscava em sua pessoa.
 
Nós pensamos que amamos, mas na maioria das vezes usamos. Sim, e as outras pessoas ou instituições também.  Um banco descobre quem tem dinheiro e lhe dá uma grande linha de crédito. "Como o banco me ama!" A pessoa utiliza o crédito e o banco lhe corta a linha. "Como o banco mudou comigo!" Não, o banco nunca lhe amou; ele amava o lucro que você poderia significar; já que não rende tanto, também não lhe é mais interessante.  Já perceberam como os presidentes, secretários e membros de diretoria empresarial, institucional ou eclesiástica têm muitas pessoas que lhes procuram, lhes telefonam, lhes mandam presentes, lhes demonstram afeto? Basta que deixem a ativa e verão de forma claríssima desvanecer o enorme círculo de amizades que supunham possuir. Igrejas que antes supostamente valorizavam os seus pastores, agora, que se aposentaram ou que ficaram incapacitados, tornaram-se grandes anônimos, esquecidos e deixados de lado. Nós somos assim. Nós agimos assim, muitas vezes, inconscientemente. Mantenho em minha biblioteca livros de nomes famosos no meio cristão, pregadores e mestres de renome. Hoje eles são papel velho e brochuras descosturadas; eles foram usados, talvez amados por alguns, mas a maioria os usou e agora os despreza.
 
"Rei morto, rei posto". Hoje mesmo vimos algo significativo claro na mídia. O Sr. José Maria Marin, grande líder de futebol, tinha um prédio no Rio de Janeiro com o seu nome. Aprisionado por suspeitas de desonestidade, arrancaram-lhe a honraria e ele agora não representa mais nada, nem o nome do prédio. De um dia para o outro acabaram-se os amigos e os admiradores. Na verdade não o admiravam; eles serviam-se do que ele poderia lhes suprir. E é assim em várias questões da vida: os filhos colocam os pais no asilo porque só dão gasto e não servem-lhes de nada; maridos separam-se de esposas estéreis porque queriam filhos; esposas abandonam maridos desempregados e adoentados; membros deixam igrejas que não possuem coisas que lhes supram a demanda educacional ou posicional. E amigos vêm e vão, de acordo com o que encontram em nós, se é interessante ou não. Baseados nisso eles surgem ou desaparecem.
 
Ou amamos ou usamos, não há saída.
 
Nós amamos quando visitamos alguém pelo que ele é e pelo prazer de estar com ele. Nós o usamos quando fazemos a visita buscando algum favor, algum empréstimo, algum documento, ou quando colocamos o compromisso embutido numa brecha da agenda (íamos passar perto, resolvemos fazer a visita para evitar conversas).
 
Nós amamos quando temos amigos com quem compartilhar, independentemente da função que exerçam. Nós usamos quando fazemos de pessoas importantes ou úteis nossos amigos, e mantemos a amizade enquanto durar essa barganha de favores (eu bajulo, ele me ajuda).
 
Nós amamos a Deus quando o buscamos apenas pela alegria de estar em Sua Santa presença ou lemos a Sua Palavra pela felicidade de ouvir a Sua voz e meditar em Seu ensino. Usamos a Deus quando o buscamos pelo interesse de obter dele algum favor ou ler Sua Palavra para resolver alguma questão.
 
Amamos o cônjuge quando ele é precioso para nós independente do que nos oferece. Usamos o cônjuge quando ele representa prole, posição social, patrimônio econômico ou satisfação física.
 
Amamos as pessoas quando elas continuam a ser importantes para nós, ainda que não nos concedam benefícios. Usamos as pessoas quando as tornamos importantes enquanto nos dão preços bons, benefícios vários ou oportunidades sociais.
 
Amamos a igreja quando servimos ao Senhor sem nos preocuparmos com o que ela fará por nós. A usamos quando estamos nela por causa de emprego, pela estrutura que supre a demanda familiar ou pelo público que nos fornece clientes para os nossos negócios. 
 
Somos do tipo que usa ou do tipo que ama?
 
Amamos o cônjuge ou o usamos? Amamos o pastor ou nos servimos dele? Amamos a empresa, a instituição, a sociedade, a igreja, ou as usamos enquanto nos forem úteis? Amamos o país ou nos alimentamos do que ele nos fornece?
 
De que tipo somos?
 
Jesus afirmou: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele." (Jo 14:21)
 
E o Pai disse: "Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;" (Is 29:13)
 
AMAS-ME OU USAS-ME?
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

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