SE EU NÃO FOSSE
CRENTE...
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"Não posso, estou
ocupado"; "Tenho muita matéria para estudar"; "Não é do meu interesse"; "Cada um
sabe o que é melhor para si próprio"; "Não conte
comigo".
Essas palavras poderiam
ser atribuídas a pessoas não convertidas a Cristo, convidadas para ouvir o
evangelho, participar de um culto, envolver-se com uma igreja. Geralmente são
desculpas que se dão para qualquer tentativa evangelística por parte dos
cristãos.
Contudo, essas são frases
de crentes. Justificativas comuns na boca de membros de igreja, talvez
da maioria. Pessoas que um dia nasceram evangélicas ou que converteram-se em
algum momento e que já se "acostumaram" ao marasmo da vida eclesiástica. São
respostas comuns às mais básicas chamadas cristãs para o trabalho. Não podem vir
ao culto, não podem frequentar a Escola Bíblica Dominical, não podem cantar ou
tocar num grupo especial, não podem fazer parte de uma equipe de evangelismo ou
de visitação.
É a metamorfose do Reino
com inversão de sentido. Se antes, na conversão o Reino chegou e trouxe
transformação, agora traz absoluta rotina e um gradativo afastamento do elemento
espiritual ou transcedental da experiência cristã. Antes o servir a Cristo era
novidade, privilégio, sede, necessidade. Agora, passado o tempo do "primeiro
amor" a igreja e o Reino tornaram-se irrelevantes, meros compromissos sociais,
de lazer ou familiares, na medida em que não tumultuarem outras prioridades
(trabalho, estudos, lazer, interesses pessoais, romances, esporte, política).
O Cristo-Rei do início da
vida cristã transforma-se no Cristo-Mendigo do decorrer dos dias que se seguem.
Antes Cristo no centro da vida do cristão, no tópico frasal da estrutura de seu
discurso vivo. Agora, passado o tempo, tornou-se referência de rodapé "pro
forma" para cumprir normas acadêmicas de uma vida vazia e sem nenhuma
espiritualidade. É como se Cristo, domingo após domingo, estivesse na porta da
igreja, nas mensagens de e-mail, nos boletins, nos torpedos, nos telefonemas,
implorando com ares de pedinte, rosto triste e súplice, que o Seu povo lhe dê um
pouquinho de atenção, de afeto, de importância, que ao menos o convide para
estar junto nas atividades do final de semana. Um Cristo concorrente e decadente
diante do "deus deste século" e com o "príncipe deste
mundo".
Nesse universo estão
leigos e clérigos. Aliás, é dos pastores que Cristo tem recebido maior desafeto.
Na plataforma de suas igrejas fazem a performance, o tipo, encarnam um
personagem. Alguns, com técnicas de comunicação aprendidas em cursos de
hotelaria e auto-ajuda, chegam a arrebatar multidões, tanto nos encontros ao
vivo quanto nos vídeos de internet. Tornam-se populares, engraçados, com grandes
"tiradas de mestre", multidões que ali se encontram não pelo Senhor, mas pelo
"status" de fazer parte de uma igreja bem famosa, popular ou moderna. Cristo,
contudo, conhece o dia a dia deles, em sua vida privada: vivem sem qualquer
religiosidade, sem qualquer relacionamento espiritual, idênticos ou até mais
secularizados que aqueles a quem supostamente ensinam. Basta estarem fora das
mídias e dos olhos de todos para serem tão seculares quanto todo mundo.
Linguajar chulo, negócios escusos, cupidez, envolvimento com o mundo, conivência
com os costumes e filosofias de mídia, aplausos às artes não-cristãs (novelas e
filmes incompatíveis com o que pregam) etc.
A ramificação
pentecostal, que surgiu no início do século vinte como uma contra-cultura
evangélica em prol de uma suposta volta à espiritualidade, procurando avançar em
terrenos que o mundo Holyness do século dezenove nunca desejou trafegar
(sentimentos e carismas acima do envolvimento pessoal com o Senhor),
transmutou-se em mera performance de palco, em formalidade e tipo, em busca do
êxtase corporativo e competitivo, para que fossem identificados como os que
geram mais experiências, e, consequentemente, mais lucro, mais fama, mais votos
na política, mais pontos de arrecadação. O neopentecostalismo está aí para
comprovar o que digo, misturando-se em todas as denominações, tradicionais ou
pentecostais, e, para espanto nosso, progredindo a passos largos no catolicismo
romano.
O mundo evangélico
conservador, de frieza em frieza, vai colecionando igrejas vazias. Algumas
porque seus líderes ousam ir na contramão dos púlpitos modernos, preferindo a
boa e velha mensagem evangélica. Mas a maioria por frieza espiritual mesmo. Já o
mundo místico encarna templos cheios, apinhados. Em todos estes, contudo, Cristo
está bem longe, sendo o grande esquecido e o grande omitido, pois deixou de ser
o foco para ser a desculpa; deixou de ser o motivo para ser apenas a
nomenclatura. Nos momentos em que Ele deveria ser a base, o alicerce, o motivo e
o ideal, revela-se apenas um sobrenome, um título por tradição, uma lembrança de
tempos passados. Cristo está ausente. O povo chamado pelo Seu nome, não é capaz
sequer de ser fiel às celebrações de culto, de exercitar os dons e talentos na
igreja que é o Seu corpo, de praticar a oração constante, de ler com
fidelidade a Sua Palavra ou de comprometer-se com Ele quando isso custe algum
sacrifício. Cristo sim, SE FOR POSSÍVEL. Cristo sim, SE NÃO CUSTAR CARO. Cristo
sim, SE NÃO AFETAR A MINHA VIDA SOCIAL, PRIVADA ou DESEJOS PESSOAIS. A Palavra
dEle sim, desde que não prejudique as MINHAS DECISÕES, que, quase sempre, vão de
encontro à vontade de Deus.
E assim caminha o
cristianismo moderno. Aliás, nem tão moderno assim, pois que o Senhor Jesus já
perguntava aos Seus indecisos apóstolos: "Quereis ir embora também?" (João
6.67). Hoje, num cumprimento escatológico, vemos à luz de nossos olhos o fato:
"Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura encontrará fé na Terra?"
(Lucas 18.8). A resposta: provavelmente muito pouca, ou talvez nenhuma, uma vez
que os autênticos ou terão morrido ou terão sido arrebatados. Não é o
reavivamento o grande sintoma da volta de Cristo, como queriam os pós-milenistas
ou carismáticos de plantão. É a frieza espiritual que caracteriza estes nossos
difíceis dias. O lamento de David Wilkerson, de saudosa memória, ecoa na alma
dos cristãos: "um batismo de angústia é o que falta no seio da Igreja de Cristo
dos dias de hoje".
Quero examinar a minha
alma. Sirvo a Deus de fato? Coloco Cristo como prioridade? Servi-Lo é
sacrifício? Desculpo-me pela infidelidade? Vivo como um não convertido quando
ninguém me vê? O tema de meu coração é Jesus? Estou satisfeito com a vida
espiritual que levo? Cobro dos outros o que eu mesmo não ofereço? E, se nessa
análise eu me encontrar culpado e devedor, até quando me manterei desse jeito?
Há esperança para mim? Posso voltar ao primeiro amor? É possível tornar-me o
crente que Deus desejava que eu fosse ao me converter? Pode a minha alma ser
tocada novamente, trazendo-me ânimo, entusiasmo, vida abundante, enchimento do
Espírito Santo?
BUSCAR-ME-EIS E ME
ENCONTRAREIS, QUANDO ME BUSCARES DE TODO O CORAÇÃO. Jeremias
29.13
Wagner Antonio de
Araújo
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