sexta-feira, 29 de maio de 2015

memórias literárias - 191 - AOS QUE ESTÃO SÓS


 
AOS QUE ESTÃO SÓS
191
 
Escrevo hoje para quem está só ou se sente só, que não tem família, amigos, colegas ou pessoas com quem contar.
 
Geralmente os solitários são invisíveis. São sombras nas paredes, são ilustres desconhecidos na multidão, são os ausentes nos jantares e nos encontros. Geralmente omitem-se por não serem boa companhia, por acreditarem que trarão desconforto ou que estragarão a festa.
 
Alguns já foram casados. Sentados na praça de alimentação dos shoppings ou nos bancos de praça, relembram com pesar e com melancolia dos anos em que se julgavam mais felizes. O filme da vida passa por suas mentes sem dó nem piedade. Lembram os seus cônjuges, lembram os filhos pequeninos, lembram os sorrisos, os galanteios, os presentes, os gestos de amor. E, num suspiro profundo e dolorido lamentam a solidão. Uns enviuvaram e olham para os lados do cemitério onde o corpo do ente querido repousa. Para eles o mundo parou quando o cônjuge morreu. Outros divorciaram-se e jamais encontraram um substituto para o coração.
 
Alguns são pais, mas pais abandonados. Com muito custo e esforço criaram os seus filhos, educando-os, vestindo-os, mantendo-lhes a estima, a educação, a dignidade. O tempo passou e hoje vivem sozinhos em apartamentos urbanos, ou em sítios retirados, e, lamentavelmente, alguns refugiaram-se num asilo público ou privado, esquecidos pelos rebentos ingratos. Talvez recebam uma ligação telefônica, um torpedo, um cartãozinho. Talvez ganhem um presentinho para guardar no armário de poucos pertences. Talvez nem sejam lembrados. Alguns sabem que fizeram por merecer, mas esperavam alguma compaixão e um perdão que nunca chegou. Outros, entretanto, não mereciam isso de forma nenhuma...
 
Alguns são filhos abandonados. Histórias tristes de crianças que não contaram com um pai, não tiveram o afeto da mãe, não viveram uma infância normal e feliz. Foram abandonados em latas de lixo, na porta de casas, nos hospitais, foram tomados e encaminhados para orfanatos, para colégios, para refúgios. Viveram a vida toda à caça de um sentido da existência, de um valor emocional, de uma mãe para amar, de um pai para gostar, de um lar para dizer: moro aqui! Alguns sobreviveram ao parto, ao passo que suas mães não, e vivem a existência na busca do abraço materno que nunca chegou.
 
Outros estão longes de seu país de origem. Vieram ou foram com o desejo intenso de trazer os seus consigo. Contudo, a vida foi dura. Talvez não puderam voltar, ou não conseguiram trazer os familiares. Vivem de telefonemas, notícias por carta, internet, ou então nem contato têm mais. Separaram-se dos pais, dos irmãos, dos amigos, das esposas, dos filhos e hoje vivem à sombra de alguns poucos amigos, de algumas pessoas que ainda os têm em estima. No peito pulsa a saudade da aldeia, da quinta, do condado, do lugarejo, da vila, do povoado. Sentem-se únicos e solitários, tristes e impotentes. Alguns, além dessa desgraça, amarguram uma pobreza irremediável, vivendo a vagar como andarilhos pelas ruas e estradas.
 
Talvez seja alguém no leito de um hospital. Nasceu com problemas, ficou a vida toda internado. Ou então convalesce de doença crônica, difícil e permanente, privado dos movimentos, da comunicação, do calor humano, da natureza, da família. Sente no fundo da alma que é um estorvo, um peso para alguém ou para o Estado, e só consegue saber que a vida passa, mas sem ele. Queria tanto um abraço, mas nem sente o corpo, queria poder enxergar quem está consigo, ou caminhar por uma grama, um corredor, uma sala, mas querer não é poder e continua aprisionado dentro de um corpo que não responde a quase nada.
 
Talvez seja um idoso que já viu partir todos os seres amados. A esposa faleceu, os filhos faleceram, os pais faleceram, os amigos faleceram. Eles olham o rosto e as pessoas de hoje e dizem: "sinto-me sozinho num mundo que não é o meu; por que vivo ainda? Os meus iguais já se foram, o que faço aqui ainda?" Não entende a linguagem moderna, não tem forças para interagir, sente falta do seu mundo de outrora e refugia-se nas lembranças de uma época muito melhor.
 
Para todos esses solitários e esquecidos , para todos esses que não constam na lista de convidados dos banquetes e ceias, para todos esses que não têm presentes para receber ou dar, para todos esses que verão a meia noite deitados numa cama ou mesmo num beco frio e chuvoso, a minha profunda solidariedade. Não só a minha, a solidariedade do Senhor. Diz-nos a Bíblia:
 
"O Seu Nome será EMANUEL, que quer dizer DEUS CONOSCO", Mateus 1.23.
 
DEUS CONOSCO! Sim, Jesus é Deus, e não um deus qualquer. Ele é Deus presente. Presente com os felizes, mas presente também com os abandonados, com os esquecidos, com os solitários, com os idosos, com os apátridas, com os peregrinos, com os divorciados, com os órfãos, com os enfermos, com os aprisionados!
 
Diz-nos Jesus: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim." (Jo 14:1)
 
Ele é amigo mais chegado que um irmão, pronto a ser achado por quem o procurar e o invocar. Ele, enquanto peregrino entre nós, semeando as boas notícias de salvação, foi ao encontro do solitário: alcançou a mulher samaritana, olhou para o publicano cobrador de impostos, transformou o endemoninhado gadareno, deu vistas ao filho de Timeu, comunicou-se com a prostituta que chorou aos seus pés, sentiu a dor da mãe viúva em Naim, apiedou-se do centurião, encorajou o aleijado no tanque de Betesda.
 
A vida de Cristo foi uma constante busca pelos solitários e desprezados, pelos leprosos, esquecidos, marginalizados pela vida, pelas celebrações. A esses Ele disse enfaticamente: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei." (Mt 11:28). Também falou: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele." (Jo 14:21)
 
Leitor solitário, Jesus é DEUS CONOSCO e pode ser encontrado hoje, agora, neste momento, aí onde estiver, desde que deseje buscá-lo, encontrá-lo, comunicar-se com Ele: "E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração." (Jr 29:13)
 
Sua promessa foi categórica: "Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós." (Jo 14:18)
 
Busque-o agora, através de suas lágrimas, de sua dor, de seu lamento, de sua saudade, transformando tudo isso numa catapulta que lhe impulsione a ORAR! Sim, a falar com Deus AGORA, de todo o coração. "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito." (Sl 34:18). Conte a Ele suas lutas, suas dores, fale de sua saudade, de seus amores, abra o seu coração de forma rasgada, completa e profunda com o DEUS PRESENTE, real e verdadeiro, com o EMANUEL!
 
Ele é real, Ele está presente, Ele pode ser encontrado agora, e melhor: sem precisar de ninguém mais, apenas o leitor e Deus! Não digo isso por teoria, mas POR EXPERIÊNCIA PRÁTICA, pois quando a solidão dilacerava o meu coração e a melancolia eclodia no meu peito pela ausência de qualquer motivo de festa, busquei a Cristo em oração, sozinho, e Ele se inclinou para mim, estendendo a Sua poderosa mão, renovando em mim o verdadeiro sentido da vida. Hoje eu sou feliz porque Jesus é DEUS COMIGO!
 
Ele também poderá ser CONTIGO agora. Busque-o.  Jesus dá fim ao seu sofrimento.
 
Que Jesus Cristo, o Filho do Deus Vivo, seja de fato e para sempre, comigo, contigo, o DEUS CONOSCO!
 
2013

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