terça-feira, 8 de agosto de 2017

memórias literárias - 495 - SENSAÇÃO DE MAL ESTAR

SENSAÇÃO DE
MAL ESTAR
 

495
 
O Brasil vai tão mal que há em cada brasileiro um sentimento de mal estar crônico, generalizado.
 
Há quase 14 milhões de brasileiros desempregados e, se contarmos os subempregados, somamos 23 milhões. Não há perspectiva de melhoria a médio prazo. Empresas buscam jovens com experiência. Se o país não permite que o adolescente trabalhe, como ter experiência profissional exigida? Vi num shoping center da cidade uma mulher de porte elegante, de linguagem culta, aparentemente uma professora, a trabalhar como faxineira das mesas da praça de alimentação. Sem nenhum demérito à função de faxina, essa mulher deveria estar numa sala de aulas, aproveitando todo o preparo que recebeu. Mas não há emprego de professora para ela ou para milhares de outros.
 
Não há saúde para o povo brasileiro. Há doença. Esta progride a passos largos. Os hospitais, que deveriam cuidar de saúde, são obrigados a cuidar de orçamentos, cortar vagas, retirar leitos e buscar alguma ordem nas filas quilométricas de atendimento. Que tristeza olhar os idosos em pé ou sentados há mais de dez horas para retirar uma senha de atendimento! E, depois de tudo isso, agendarem uma consulta para seis meses. Alguns já estarão sepultados, se encontrarem vagas nas sepulturas públicas da cidade! Quando conseguem uma vaga hospitalar, encontram uma enfermaria fétida, materiais a apodrecer nas lixeiras, falta de limpeza e de cuidados. Um rato foi encontrado num freezer em que eram guardados os soros para a cirurgia num destes hospitais!
 
Política? Não, não há. O que há é apenas um poder dominante que finge fazer política. Estamos na ditadura dos que dominam. Às vezes travestem-se de vermelho; outras, de azul. Mas os financiadores são sempre os mesmos e a corrupção só faz aumentar. Retiraram os vermelhos na esperança de sanear o poder público; não foi possível. As empreiteiras e os bancos que financiavam os vermelhos também financiaram os azuis. A corrupção denunciada a cada hora não nos cora mais, não nos causa mais nenhuma surpresa, apenas desgosto e dor. Não temos mais nenhuma esperança de justiça. Os autores estão nas casas luxuosas a fingir que cumprem prisão; os mandantes estão em Brasília ou no poder dos estados. E o governo sinaliza mais impostos, mais opressão contra a difícil renda de quem ganha alguma coisa. Somos punidos pela prosperidade alcançada, e punidos pela miséria obtida. Enquanto isso a mídia transmite o show de azedume entre ministros, juízes, procuradores, políticos, advogados e sindicatos. Não se trata da verdade; trata-se de um show para ir-se levando o tempo.
 
Há alguns dias o meu irmão telefonou-me, pedindo que orasse por ele, pois estava a atravessar uma zona de tiroteio numa cidade brasileira. Fizeram um viaduto imenso, que corta favelas, e a tal via urbana transformou-se em brincadeira de tiro ao alvo por parte dos criminosos. Quem entra por ela ora para poder sair vivo, ou, pelo menos, receber um tiro não fatal. Preguei numa igreja em São Paulo que acabou de acercar o seu patrimônio com eletricidade; por três vezes foi roubada nos últimos dias. Também contratou um vigilante noturno. Colocamos grades em nossas casas e mantemos os criminosos soltos pelas ruas. A polícia prende e a justiça solta. A inversão de valores é completa nesta nação. Lembro-me do respeito que tínhamos quando a polícia chegava no bairro. Hoje as pessoas jogam pedras nas viaturas e um policial é tolhido de exercer a sua função!
 
A imoralidade tornou-se regra, e o recato uma exceção. Levei meus filhinhos num parque da cidade. Mas tive que ir à frente para achar locais por onde conduzí-los, uma vez que havia duplas homossexuais a praticar explicitamente suas perversões, bem como casais que transformavam árvores frondosas em suítes de motel. E os guardas nada podem fazer, pois são poucos e moram próximos destes cidadãos. Eis aí a geração criada pelos malditos psicólogos da década de setenta: é proibido proibir! O que isso nos trouxe? Um país babilônico, sodomita e sem esperança. Safadões tornam-se evangélicos, mas continuam na prática do pecado. A música não inspira mais, apenas transpira. E o conhecimento? Apenas o que o celular, o google e a mídia massiva produzem, abandonando o conhecimento profundo das coisas. Enciclopédias nem existem mais; consultas são feitas pela internet. E viva o empobrecimento desta pátria!
 
Para completar esta triste constatação, igrejas há, e muitas! Mas o seu conteúdo dificilmente satisfaz a Bíblia na qual alegam crer. Crentes eram definidos, tanto pelas vestes quanto pelo trato. A fama de um crente girava em torno da honestidade, da seriedade, da falta de humor (malicioso), da auto-segregação (não participavam dos eventos sociais mundanos), do cristianismo encarado com fé e com fidelidade. Hoje? Bem, não é preciso dizer muito. Temos igrejas com MMA (luta violenta), bailes funk gospel, sex shop gospel, forró gospel e até macumba gospel, cujos rituais recebem o nome de "ato profético", "unção" ou "mistério". As bugigangas da fé, jogadas fora pelos idólatras que se converteram a Cristo foram trazidas para as igrejas com roupagens novas, comportamento similar ao cristianismo oficializado por Constantino em 323 dC. Em contraponto disto um número cada vez maior de "desigrejados", criadores de suas próprias doutrinas, intérpretes de sua própria fé. Vivemos os dias dos juízes no Velho Testamento, onde cada um buscava o que melhor lhe parecia. Veja o sucesso de um pastor rico, de grande igreja ou que fala bobagens; compare isso com alguém que busca ser bíblico e não flerta com o modernismo. Os primeiros têm milhões de seguidores; os segundos, se tiverem alguns, já estarão bem colocados!
 
Tudo isso gera um mal estar. Há uma sensação de febre, de dor no estômago, de enxaqueca constante, de calor físico e psicológico, de problema não resolvido, de bomba prestes a explodir, de trabalho não finalizado, de saudades não se sabe de quê. Nós, os mais maduros, temos saudades de um Brasil muito mais florido e bonito há trinta anos. Mas os mais jovens, sentem saudade de um tempo que nunca viveram. Não há rostos sorridentes, olhos brilhantes, corações confiantes ou opinião de vitória em lugar algum, exceto particularmente no peito de um crente em comunhão, ou, quando muito, numa pequena cidade do interior que colhe o fruto da agricultura vencedora ou da praia, que sorve o creme dos royalites do petróleo. No mais, sentimo-nos impotentes, desesperançosos, deprimidos, como se o sol do meio dia estivesse escuro demais. Alegrias locais existem; mas como nação, só a desilusão.
 
Se isto vai parar? Não sei. Mesmo neste mundo perdido, prestes a sofrer o grande arrebatamento da igreja do Senhor, ainda há alguns países em que as coisas caminham bem. Geralmente nestas nações há emprego para todos, porque se entende que é um direito inalienável do cidadão trabalhar e ganhar o seu pão. Quando não há vaga o próprio país o auxilia, crendo que a prosperidade de todos gerará oportunidade para os poucos desafortunados. Nestes países ninguém é considerado pobre para receber um tratamento de saúde digno e decente. Assim como todos se encontram um dia num caixão de cemitério, nestes países optou-se por unir a todos no fornecimento de um hospital condigno, sem luxo, mas com bom tratamento. Estas nações não lutam contra um poder dominador repugnante, autoritário ou corrupto. Pelo contrário, as contas públicas são transparentes, são auditadas pela sociedade civil e os cidadãos administram o poder que criaram. Políticos são servidores do povo e não o contrário. Se forem bem, se mantém; se não, são simplesmente retirados. A impunidade pode existir, mas é tão pequena que os cidadãos confiam na justiça. Assim, pagam os impostos e vêem o país servido das mais belas vias públicas e com serviços de qualidade. Por estarem educados estes povos valorizam os professores, as bibliotecas e a cultura, dando às crianças e aos jovens todo o recurso possível para o seu progresso. Ali a música sensual tem o seu reduto próprio, mas no que é público está o patriotismo, a poesia, a beleza, a música erudita. Não são raras as apresentações públicas de orquestras, corais, óperas e grupos, sem o medo de um arrastão, de um roubo à mão armada ou de uma exposição pública da família com coisas inescrupulosas. Infelizmente o terrorismo é um mal real, mas é encarado com seriedade e combatido com eficácia. Quanto às igrejas, infelizmente estão morrendo. Não porque o povo seja culto, ganhe bem ou leve as coisas a sério, mas porque a tendência humana é abandonar o seu criador. O mundo jaz no maligno. E Jesus disse que, prestes à sua volta, a fé se esfriaria de quase todos, juntamente com o amor.
 
Há esperança para o Brasil? Somente por um milagre. Somente quando os crentes cristãos levarem a sério a oração particular, de joelhos, ou comunitária, clamorosa, implorando por uma intervenção divina. Nesta intervenção faz-se necessária a mão de Deus em tudo: em sepultar o poder público e as instituções corruptas, punir o crime, cuidar de seus idosos com vigor e valor, remunerar professores e estabelecer escolas altamente qualificadas, sanear pelas mídias a cultura, dando ao povo o direito de acessar o que é culto, o que é construtivo, o que é respeitoso, e gerar nas crianças o respeito, o patriotismo, a seriedade e a esperança de que, para os seus filhos e netos, o país poderá ser melhor se levado a sério hoje. Será preciso uma nova geração de gente honesta, culta, vigorosa, talentosa, temente a Deus e cumpridora de seus compromissos.
 
Sou um daqueles que clama pelo Brasil. Afinal, tenho filhos que viverão aqui, caso o Senhor não volte agora. E tenho irmãos aos quais sirvo no evangelho, a quem quero ver felizes, prósperos e sem esse mal estar que nos acomete a todos.
 
Wagner Antonio de Araújo
08/08/2017
 
 

obs: Muitos nem lerão este texto, alegando que é grande demais, que não têm tempo, que ficará para uma outra oportunidade (que nunca virá). Caso você tenha lido, gostaria antecipadamente de agradecer-lhe. São poucos os que se atrevem a escrever textos longos nos dias de hoje. Eu sou um destes atrevidos. Obrigado!

Um comentário:

  1. Obrigado por este texto pastor. As pessoas não lerão por ser grande. Não lerão por causa das verdades expostas. Assim que começam a ler desistem. Estou cansado de igrejas da moda que não trazem profundidade nos relacionamentos de seus membros. Prefiro as pequenas como a boas novas e a nova aliança. Deus te abençoe pastor. Norberto

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