terça-feira, 15 de agosto de 2017

memórias literárias - 508 - O QUE CANTAMOS

O QUE
CANTAMOS


 
508
 
Encontro-me a cada dia mais perplexo com o que se canta e quem são os nossos cantadores cristãos.
 
A cantora evangélica famosa foi flagrada usando maconha. Seus áudios estão expostos. O acusador, namorado dela (e ela é divorciada de um cantor evangélico que judaizou-se) confessa que estava num cinema usando droga também. O que é isso?
 
A filha de um famoso cantor nordestino, muito popular no meio pentecostal, denuncia que seu pai, flagrado com garotas de programa e bêbado, faz isso há anos, tem quatro filhos espalhados com mulheres outras e que não deu e não dá qualquer recurso para a sua prole. Vive no luxo em frente à praia, anda em carros milionários e não tem cuidados com a família. Ele será candidato a deputado. O que é isso?
 
Um cantor negro spiritual do Brasil, muito popular naquele tempo em que corais imitavam a música gospel do Brasil, gravou atualmente um clipe com caveira e convidou um cantor secular para participar de sua música. Acusado, ele gravou um vídeo, defendendo-se. A conclusão a que chegou é que ele está fundamentado na Bíblia e que a caveira é a sua marca. O que é isso?
 
Um pastor neopentecostal nordestino acusou a outro, pastor e cantor,  de ser pedófilo, estuprador, ladrão de ofertas e mentiroso. O outro, tentando defender-se, confessou grande parte disso e disse que está na fase atlética da vida, tendo deixado por um tempo o pastorado. O que é isso?
 
Um cantor antigo, muito respeitado há décadas, ofereceu um vídeo ao seu suposto filho americano. Depois filmou outra coisa, dizendo que esse homem o estava roubando e que não era filho de verdade. O acusado, então, posta quase uma dezena de vídeos, com documentos e fotos, mostrando que o cantor antigo mentia e que sua moral era muito duvidosa. Em suma: uma vida diferente daquilo que tanto cantou. O que é isso?
 
Isso é sinal dos tempos. Isso é o que se tornou a música gospel do país. Abandonamos os hinários, a música tradicional, o canto coral, a música erudita, e nos afundamos na lama do secularismo, transformando a música de louvor e adoração em sucesso, em lucro, em dinheiro, em fama, em dinheiro, em carreira artística. Trocamos o louvor comunitário de adoração a Deus, usando o NÓS para nos dirigir a DEUS, pelo louvor ao próprio homem, usando o EU e nos dirigindo A NÓS MESMOS. Antes dizíamos: "Nós te adoramos, ó Cristo". Hoje dizemos: 'EU SOU A MENINA DOS OLHOS DE DEUS".
 
A música evangélica contemporânea, com raras exceções (e está difícil encontrá-las!) é um retrato musicado da apostasia evangélica generalizada. Há alguns dias estive numa igreja onde não se cantou um único hino que não expressasse o EU como sujeito e o EU como objetivo. Nós cantamos para nos entreter ou para massagear o nosso ego. Não cantamos mais para dar a Deus a glória, a honra, o louvor e o devido crédito por todas as coisas. A nossa música é mesclada de existencialismo, de relativismo, de ufanismo e de cinismo.
 
Na igreja onde sirvo ao Senhor, Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, costumamos cantar hinos de louvor ao Senhor. Usamos o Cantor Cristão, velho hinário dos batistas brasileiros, que possui farta e qualificada coleção de hinos sacros. Às vezes faço solos; às vezes trios; às vezes posto o cântico congregacional. E, não raras vezes, recebo retornos dos amigos que dizem: "meu Deus, que saudades desse tipo de música!"; "Que falta faz o canto de hinos no culto!"; "Lembrei-me de minha infância!"; "Em minha igreja eles nem sabem que existiu cantor cristão". A perplexidade das pessoas com tais hinos não tem significado para a pequenina igreja que pastoreio, porque os bons hinos teocêntricos têm sido os únicos que oferecemos a Deus, não apenas deste hinário. E a responsabilidade da hinódia de cada igreja está nas mãos dos pastores. São eles que devem dar o seu crivo e a recomendação do que sua igreja deve cantar. Infelizmente pastores hoje cantam o que o povo gosta, o que agrada a mocidade, o que atrai público, o que é popular, não o que edifica, o que está na Bíblia, o que acrescenta, o que é correto.
 
A rádio que mantenho no ar (RNW, Rádio Naftalina Web) toca hinos e sempre recebo palavras de elogios, dizendo que é a coisa mais rara de se escutar. Infelizmente o é. Mas ali ainda encontramos os grandes solistas, duetos, trios, quartetos, corais, madrigais, músicas instrumentais, cânticos eruditos, música de louvor rural etc.
 
O mundo gospel está podre. Mas podemos alterar isto. Podemos deixar de consumir músicas dessa gente que mencionei acima. Podemos parar de usar música de lucro, música de carreira, e usar a música de louvor e adoração com fundamentação bíblica e sem o uso de EU, EU, EU. No verdadeiro louvor, Deus ocupa o lugar do meu EU e o EU enaltece ao Criador, não a si mesmo. E a melodia, ritmo e estilo não devem turbar a qualidade do que se confessa cantando, nem transformar a música de adoração em popularice mundanista. Se no templo de Israel até o incenso era de receita própria, não devendo ser usado outro, por que invadir o culto divino com fogo estranho na exaltação do Senhor? Não cantamos louvores para dançar, para pular, para nos entreter, para socializar. Cantamos para enaltecer ao Senhor, para confessar a Sua grandiosidade e para divulgar a Sua mensagem a quem canta ou ouve.
 
Que voltemos aos nossos hinários. Cantor Cristão, Salmos e Hinos, Harpa Cristã, Melodia de Vitórias, Melodias do Maranata e tantos outros. E ainda outros que possam ser criados, desde que sem o tempero deste século.
 
Wagner Antonio de Araújo
15/08/2017

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