sábado, 26 de agosto de 2017

memórias literárias - 513 - UMA IGREJA EVANGÉLICA

UMA IGREJA
EVANGÉLICA


 
513
 
O que se vê hoje em nome de IGREJA EVANGÉLICA é por demais absurdo. Basta acessarmos o youtube e encontramos aberrações que nos dão asco e revolta. "Pegou fogo na igreja", e mostram um galpão fétido, cheio de gente aglomerada, um pastor suado, berrando e babando com gente estirada no chão. "Unção profética", e vemos um suposto apóstolo descalço, com os pés nos pés de outro incauto, alguém a derramar um galão de azeite na cabeça de ambos e o povo girando como possessos de espírito imundo. Buscamos "Louvor" e contemplamos gente com a língua para fora, berrando como loucos, e um artista cuspindo no microfone ao som de músicos que arrebentam baterias, guitarras e teclados. Que conceito esses falsos cultos passam sobre IGREJA EVANGÉLICA?
 
Esta é uma época sem paradigmas, sem parâmetros, sem regras. Ela assemelha-se ao tempo dos juízes de Israel, onde cada um fazia o que melhor considerava. Lembra-nos também um outro período histórico, quando o reino de Israel dividiu-se em dois, Judá (Reino do Sul) e Israel (Reino do Norte). Jeroboão, rei do norte, decidiu inventar a religião ao seu belprazer. Fez bezerros de ouro, estabeleceu seus próprios sacerdotes e inventou um sistema de cultos, chamando aquilo de adoração a Deus. O povo aceitou! Quando Ezequias, rei de Judá, convidou o povo do norte para vir adorar a Deus no templo, em Jerusalém, conforme os ensinos de Moisés, o povo do norte riu-se e zombou do convite. Para quê? Cada um prestava o culto que queria.
 
Assim é o nosso tempo. O cidadão deixa uma igreja decentemente organizada, abre uma garagem, faz sua própria consagração, coloca roupas chamativas, levanta uma placa cheia de promessas (cura divina, libertação, amarração no amor), enche o salão, arrecada suas ofertas e chama aquilo de "ministério". Abre filiais de arrecadação, paga alguns artistas para fingirem milagres, torna-se popular, compra o direito de pregar num grande congresso neopentecostal, torna-se famoso e estabelece um império. É vergonhoso!
 
Nada mais distante de uma autêntica igreja evangélica. Como elas eram? Como são as verdadeiras igrejas evangélicas?
 
Elas são constituídas de pecadores convertidos a Cristo. São pessoas comuns, confrontadas com a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Nela descobrem-se pecadores perdidos, carentes de salvação. Um evangelista lhes apresenta o único caminho de reconciliação com Deus: Jesus Cristo. Ele é a porta, Ele é o pastor, Ele é o pão da vida, a água da vida, o salvador. Estas pessoas entregam-se a Cristo, submetem-se ao batismo e prestam culto a Deus com constância. Nestes cultos priorizam a adoração a Deus, a proclamação do evangelho e o serviço ao próximo. Isto é igreja evangélica.
 
Nestas igrejas o culto é racional, não emocional. Eles não berram como loucos, gemem como dementes, tomam choques como se estivessem possuídos. O culto que prestam é algo feito com o coração e com a mente. Podem sorrir, podem chorar, podem dar glória a Deus, mas não agem como dementes ou irracionais. Um culto evangélico não causa vergonha a um visitante. Um culto evangélico não deixa a razão na porta de entrada. Um culto evangélico busca a comunhão com Deus, que pode ser audível ou silenciosa. Aliás, no silêncio de um momento de oração encontra-se a mesma experiência que Elias teve no monte Horebe, ao ouvir a voz de Deus, que não estava nem no movimento da ventania, nem no chacoalhar do terremoto e nem na quentura do fogo.
 
Na igreja evangélica as pessoas participam com ordem e com decência. Elas oram, mas uma de cada vez, para que possam dizer amém à oração do outro. Elas cantam, procurando harmonizar o seu canto ao de toda a congregação. O canto é fundamentado na Bíblia, não em experiências estranhas. São cânticos coletivos, para a congregação, de exaltação a Deus. Há solos, duetos, corais, quartetos e músicas instrumentais. A plataforma dos músicos não é palco, é espaço para que os músicos toquem, tão-somente. O culto evangélico é compreensível na mensagem, audível na sonoridade, convincente na mensagem.
 
A pregação evangélica exalta a Cristo, não ao homem. O pregador prega. Suas mensagens são inteligíveis, são fundamentadas na Bíblia. Ele não entra em êxtase, como se estivesse a receber um espírito. O Espírito Santo não cria confusão, mas edificação. Uma mensagem evangélica apresenta Jesus como Salvador e Senhor. A mensagem convida o povo a receber Cristo em seu coração, edifica os já convertidos em sua fé e promove o amor a Deus e ao próximo. As pessoas que ouvem a mensagem saem esclarecidas, não perturbadas.
 
O culto é agradável e não visa a promoção pessoal. Cada parte do culto tem o objetivo de adorar a Deus, anunciar a salvação e trazer glória ao Senhor. Todos agem com ordem e com decência, sem confusão. Respeita-se o salão de cultos como um local especial, como um local de adoração, sagrado. As pessoas sabem que estão numa igreja e não num mercado, numa lanchonete ou numa sala de shows.
 
Numa igreja evangélica os membros são dizimistas ou ofertantes contínuos. Eles mantém a igreja à custa de suas voluntárias doações, cujo orçamento e administração são conhecidos e claros. O pastor não é o tesoureiro, não recebe as ofertas como suas. O pastor recebe prebenda, que é o salário pela sua dedicação ao trabalho eclesiástico. Essa prebenda é definida pela própria igreja, não por ele mesmo. E a propriedade não está em seu nome, mas no nome da comunidade que pastoreia. Assim, o pastor serve, não é servido. A igreja o mantém, não o enriquece. As ofertas e dízimos servem para manter o patrimônio, manter o serviço pastoral, auxiliar o próximo e cumprir com suas obrigações sociais. E tudo muito bem claro, contabilizado e oficializado.
 
Esta igreja evangélica não causa tumulto no local onde está sediada. Ela não coloca suas caixas acústicas à porta, para atrapalhar a vizinhança com o som do culto que na área interna se processa. A vizinhança pode incomodar-se com os muitos carros que estacionam no quarteirão do templo, mas jamais se incomoda com a barulheira ou o tumulto, pois estes crentes não causam isso. São respeitadores, são pacíficos, não são invasivos. Eles respeitam a privacidade da vizinhança. E são benquistos, uma vez que só trouxeram boas coisas para o local.
 
Ah, como está difícil encontrar uma igreja assim! A igreja que o leitor frequenta é assim? Meus parabéns! Uma igreja evangélica é assim. E se hoje há inúmeras que não são, é porque em algum momento histórico da vida destas outras congregações decidiram seguir os seus próprios modismos, as suas próprias regras e não aquelas que a Palavra de Deus estabeleceu. Eles mudaram a tradição dos antigos, mudaram o comportamento litúrgico, contemporizaram as suas reuniões à luz de seus próprios meios, não à luz da razão, do bom senso e da orientação bíblica. Cada um faz o que bem entende e assim IGREJA EVANGÉLICA torna-se qualquer coisa, menos aquilo para o que ela nasceu.
 
Dou graças a meu Deus por ser membro de uma IGREJA EVANGÉLICA que ainda segue as orientações bíblicas como norma de fé e prática. Dou graças ao Senhor por ser um pastor que não inovou, não inventou, não contemporizou na liturgia e no procedimento eclesiástico. A bíblia não foi confiada a mim ou à igreja que pastoreio para ser melhorada, submetida à releitura, alterada ou atualizada. Ela é suficiente, ela é adequada e é nela que edificamos a nossa fé.
 
Que Deus mantenha as IGREJAS EVANGÉLICAS que ainda o são! Que Deus tenha misericórdia de crentes que não encontram uma assim para servir ao Senhor!
 
Wagner Antonio de Araújo

26/08/2017

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