terça-feira, 8 de agosto de 2023

memórias literárias - 1380 - SÓ UM ABRAÇO


 

UM ABRAÇO
 
1380
 
Hoje pela manhã o meu amado filho Josué Elias veio ao meu quarto, enquanto eu ainda repousava e me disse: "Te amo, papai!" e agarrou-me num abraço caloroso e filial. Eu o apertei no meu peito, disse que também o amava e o quanto ele era precioso para mim. Ele então dava o seu sorriso de satisfação.
 
Pensei nesse menino daqui a uns 15 anos: grande, quando não couber mais no meu colo, quando tiver o seu trabalho, estiver na faculdade e namorar a sua futura esposa. Eu olharei para ele e me lembrarei do abraço afetuoso que recebi nesta manhã de outono, daquele menino maravilhoso de cinco anos de idade!
 
Talvez fosse apenas um abraço trivial, um cumprimento protocolar apenas. Mas não este. Aliás, o meu filho jamais me abraçaria se não fosse motivado por um sentimento muito profundo. Seus abraços são sinceros, como é sincera a manifestação sentimental das crianças.
 
Pensei nos abraços que recebi em minha vida. Abraços de parentes que nunca mais verei, porque já partiram. Pensei nos abraços de minha mãe, que eram tão reservados e restritos, porque ela não fora criada com expressões de toque em sua infância. Muitos pais antigos não sabiam se expressar com afetos físicos, mas tinham outros tipos de afeto. E minha mãe era um poço de afeições múltiplas. Alguns abraços dela eu jamais me esquecerei.
 
Pensei no abraço triste que dei em meu irmão Daniel, quando celebramos o ano novo após o falecimento de minha mãe. Enquanto muitos estavam a sorrir e a festejar nós estávamos a chorar, um no ombro do outro, por um longo tempo. Meu Deus, jamais me esquecerei desse abraço!
 
Lembrei-me do abraço da irmã Isabel Felix José, membro da Igreja Batista Boas Novas, que pastoreei. Ela, com 87 anos, despedia-se deste mundo. Eu iria viajar por três semanas, mas ela pressentiu que seria a nossa despedida. Abraçou-me em lágrimas. Que abraço inesquecível! E o abraço do Pr. Timofei Diacov, no último dia em que o visitei na clínica onde estava internado? Lembro-me do abraço do meu avô João Paulino de Araújo, em 1978, após as tradicionais férias de julho, as últimas em que estive com ele.
 
Lembro-me do abraço de despedida de minha mãe portuguesa por consideração, Maria Arlete Bastos, um abraço de "logo logo nos veremos pessoalmente!". Amém! Os abraços que recebi na casa de meus primos na minha recente viagem a São Paulo, os abraços de colegas pastores e de irmãos em Cristo, nas igrejas que visitei! Quanta ternura!
 
E os abraços de minha esposa Elaine? Lembro-me do primeiro abraço de despedida, no acampamento, quando nos conhecemos. Um abraço restrito, uma despedida de irmãos em Cristo. Depois, quando nos tornamos cooperadores na mesma igreja e, posteriormente, do primeiro abraço como namorados. Lembro-me de cada um, de cada intenção, de cada momento. A ternura vem do coração e esta ternura nos uniu no Senhor, num sólido e abençoado casamento. Ela costuma dizer que dura muito o efeito de um abraço verdadeiro. E tem toda razão! Os seus abraços aquecem a minha alma!
 
Leio na Bíblia o seguinte: "Revesti-vos de ternos afetos de misericórdia" (Colossenses 3.12). O Apóstolo Paulo, conquanto transmitisse em seu porte e em sua presença uma postura séria e formal, foi quem registrou para nós a experiência cristã daqueles tempos iniciais: ternos afetos de misericórdia. Ele cita o "ósculo santo", que é o beijo fraterno na face, e certamente no trato da irmandade havia o tradicional abraço oriental, como um filho que abraça um pai. Nos dias de hoje, quando tudo se põe a perder com a insinuação da malícia e das segundas intenções, necessário se faz despir-se dessas memórias mundanas e resgatar o abraço afetuoso de uma criança.
 
Sim. Tudo isso Josué Elias transmitiu para mim. Foi só um abraço. Só? Não. Foi uma aula de ternura. Um afeto que levarei para o resto de minha vida.
 
Amo você, meu filho Josué Elias!
 
Wagner Antonio de Araújo

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