SÓ
UM
ABRAÇO
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Hoje pela
manhã o meu amado filho Josué Elias veio ao meu quarto, enquanto eu ainda
repousava e me disse: "Te amo, papai!" e agarrou-me num abraço caloroso e
filial. Eu o apertei no meu peito, disse que também o amava e o quanto ele era
precioso para mim. Ele então dava o seu sorriso de satisfação.
Pensei nesse
menino daqui a uns 15 anos: grande, quando não couber mais no meu colo, quando
tiver o seu trabalho, estiver na faculdade e namorar a sua futura esposa. Eu
olharei para ele e me lembrarei do abraço afetuoso que recebi nesta manhã de
outono, daquele menino maravilhoso de cinco anos de idade!
Talvez fosse
apenas um abraço trivial, um cumprimento protocolar apenas. Mas não este. Aliás,
o meu filho jamais me abraçaria se não fosse motivado por um sentimento muito
profundo. Seus abraços são sinceros, como é sincera a manifestação sentimental
das crianças.
Pensei nos
abraços que recebi em minha vida. Abraços de parentes que nunca mais verei,
porque já partiram. Pensei nos abraços de minha mãe, que eram tão reservados e
restritos, porque ela não fora criada com expressões de toque em sua infância.
Muitos pais antigos não sabiam se expressar com afetos físicos, mas tinham
outros tipos de afeto. E minha mãe era um poço de afeições múltiplas. Alguns
abraços dela eu jamais me esquecerei.
Pensei no
abraço triste que dei em meu irmão Daniel, quando celebramos o ano novo após o
falecimento de minha mãe. Enquanto muitos estavam a sorrir e a festejar nós
estávamos a chorar, um no ombro do outro, por um longo tempo. Meu Deus, jamais
me esquecerei desse abraço!
Lembrei-me do
abraço da irmã Isabel Felix José, membro da Igreja Batista Boas Novas, que
pastoreei. Ela, com 87 anos, despedia-se deste mundo. Eu iria viajar por três
semanas, mas ela pressentiu que seria a nossa despedida. Abraçou-me em lágrimas.
Que abraço inesquecível! E o abraço do Pr. Timofei Diacov, no último dia em que
o visitei na clínica onde estava internado? Lembro-me do abraço do meu avô João
Paulino de Araújo, em 1978, após as tradicionais férias de julho, as últimas em
que estive com ele.
Lembro-me do
abraço de despedida de minha mãe portuguesa por consideração, Maria Arlete
Bastos, um abraço de "logo logo nos veremos pessoalmente!". Amém! Os abraços que
recebi na casa de meus primos na minha recente viagem a São Paulo, os abraços de
colegas pastores e de irmãos em Cristo, nas igrejas que visitei! Quanta
ternura!
E os abraços
de minha esposa Elaine? Lembro-me do primeiro abraço de despedida, no
acampamento, quando nos conhecemos. Um abraço restrito, uma despedida de irmãos
em Cristo. Depois, quando nos tornamos cooperadores na mesma igreja e,
posteriormente, do primeiro abraço como namorados. Lembro-me de cada um, de cada
intenção, de cada momento. A ternura vem do coração e esta ternura nos uniu no
Senhor, num sólido e abençoado casamento. Ela costuma dizer que dura muito o
efeito de um abraço verdadeiro. E tem toda razão! Os seus abraços aquecem a
minha alma!
Leio na
Bíblia o seguinte: "Revesti-vos de ternos afetos de misericórdia" (Colossenses
3.12). O Apóstolo Paulo, conquanto transmitisse em seu porte e em sua presença
uma postura séria e formal, foi quem registrou para nós a experiência cristã
daqueles tempos iniciais: ternos afetos de misericórdia. Ele cita o "ósculo
santo", que é o beijo fraterno na face, e certamente no trato da irmandade havia
o tradicional abraço oriental, como um filho que abraça um pai. Nos dias de
hoje, quando tudo se põe a perder com a insinuação da malícia e das segundas
intenções, necessário se faz despir-se dessas memórias mundanas e resgatar o
abraço afetuoso de uma criança.
Sim. Tudo
isso Josué Elias transmitiu para mim. Foi só um abraço. Só? Não. Foi uma aula de
ternura. Um afeto que levarei para o resto de minha vida.
Amo você, meu
filho Josué Elias!
Wagner
Antonio de Araújo
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