segunda-feira, 7 de agosto de 2023

memórias literárias - 1340 - NOTÍCIAS SEM TRÉGUA

 NOTÍCIAS

SEM TRÉGUA
 
 
1340
 
Não há mais tempo de análise, de ponderação, de reflexão. As notícias chegam sem trégua, sem pausas, sem limites.
 
Antigamente comprávamos o jornal na banca e líamos as notícias de ontem. Parávamos para analisar, para aprofundar a compreensão, para refletir sobre os detalhes. Semanalmente recebíamos a revista preferida com as manchetes, com as fotografias, com os destaques. Assistíamos ao jornal da noite, buscando saber o que acontecera durante o dia. Não havia ninguém pendurado em nenhum rádio, em nenhum canal de tv, salvo quando ocorria um incêndio ou outra catástrofe.
 
Hoje a situação é insana. O que lemos há uma hora não é mais atual. Há cinco minutos as manchetes mudaram radicalmente. O volume de informações do minuto anterior multiplicou-se exponencialmente e não temos certeza de que os fatos são realmente atuais! As pessoas grudam nos telemóveis, nos aplicativos de notícias, nos podcasts, nas manchetes, nos vídeos enviados. Há gente desesperada por saber o número de visualizações de um vídeo ou áudio e não consegue deixar de olhar!
 
Vivemos numa realidade paralela. Analisemos o dia em que não trabalhamos e que estamos livres. O que fazemos? Ficamos no celular a buscar novas publicações, notícias, manchetes, coisas que nos atualizem. Não sossegamos! Estamos o tempo todo tensos, em busca de alguma solução, de alguma resposta, de alguma tragédia, de alguma novidade, de alguma esperança, de alguma descoberta.
 
Nós estamos doentes! Nós estamos em transe! Saímos de nossa realidade e mergulhamos num mundo virtual, onde o importante não é o que acontece em si, mas a série de novos acontecimentos e de coisas novas. Nós nem prestamos atenção nos fatos; nós queremos saber o que vem depois, e depois, e depois...
 
Pregadores locais buscam saber o que estão pregando nos púlpitos alheios, para adaptar as mensagens ao seu público, antenados com as novidades. Inúmeros comerciantes da fé buscam os mais recentes escândalos para comentar, e não têm pejo em dizer que estão apenas lendo o que acharam na internet. Aliás, a única fonte de informação deste mundo hoje é a internet; não há conhecimento fora dela (falácia de Satanás).
 
Somos reféns da ansiedade deste século. Somos escravos do inimigo e gado do vaqueiro do inferno! Até quando manteremos o jugo em nosso pescoço?
 
Aqueles que pensam que uma vida no interior, fora das capitais ou das grandes cidades é um fator de diferença deste estado, estão redondamente enganados. Vivi numa cidade minúscula em termos demográficos e geográficos e o que mais vi foram pessoas viciadas em celular, em notícias, em podcasts. Lá na roça, no mato, debaixo da árvore, o camponês está buscando informes em seu whatsapp e instagram.
 
O que fazer?
 
Não há outra forma: temos que mudar a nossa maneira de pensar, para mudar a nossa maneira de viver.
 
Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras? (Lc 12:26). Cristo deu o caminho: não podemos mudar os fatos, os acontecimentos a nível global. Portanto, viver em ansiedade é perder a vida em loquacidade frívola.
 
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. (Ec 1:9). Mudam-se os papéis de embrulho, mas os presentes sempre são os mesmos. O que o coração do ser humano produz? O pecado, o egoísmo, a injustiça. Então os fatos poderão mudar de cores, mudar de personagens, mas os acontecimentos serão sempre os mesmos: tragédias, injustiças, ingratidões, desonestidades, depredações, vandalismos, promiscuidades etc.
 
A ansiedade no coração deixa o homem abatido, mas uma boa palavra o alegra. (Pv 12:25). Ah, como faz falta uma boa palavra. Acontece que ela não estará no aplicativo de mídia que usamos (até as boas palavras que encontramos nas redes se tornam motivo de ansiedade, com os encaminhamentos e as reproduções sem fim). A boa palavra está na Bíblia, num bom livro, numa poesia, numa meditação pessoal, numa carta escrita à mão, num compêndio ilustrado. Jogaram fora os seus livros de papel, os seus álbuns de foto e os seus cadernos de poesia. Precisamos tê-los de volta!
 
Assim como o homem pensa, assim ele é. (Prov 23.7). Somos aquilo que pensamos. Se deixarmos os pensamentos aos nossos cuidados colheremos dos seus frutos, quer sejam bons, quer sejam maus. Como tendemos para o mal precisamos entregar os nossos pensamentos a Deus e transformaremos os resultados de nossa vida. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; (Cl 3:2); Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Fp 4:8)
 
Nós colhemos o que plantamos. Se decidirmos sair deste círculo vicioso de recepção contínua e desespero por novidades; se decidirmos ocupar o pensamento com coisas que constróem e que edificam, colheremos os resultados. Portanto comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. (Pv 1:31). Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. (Gl 6:7).
 
Que Deus nos tire desta escravidão do mundo pós-moderno de uma mídia dominadora e desta sede irreparável de novidades segundo-a-segundo.
 
Wagner Antonio de Araújo
08/02/2023
 

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